domingo, 28 de fevereiro de 2010

Chamem a polícia, por favor!

Se você tiver seu veículo envolvido em um acidente de trânsito sem vítimas, para o qual não contribuiu, prepare-se para arcar com os prejuízos, a não ser que o outro envolvido seja pessoa honesta e bem intencionada ou que você falte com a verdade ao chamar a polícia ou a autoridade de trânsito, fingindo ter sofrido alguma lesão. É que, em várias das cidades brasileiras, nem a polícia, nem o departamento de trânsito, atendem a ocorrências desse tipo; mesmo onde existe a chamada “justiça volante” (uma unidade móvel do Poder Judiciário destinada solucionar esse tipo de demanda no próprio local ou dar início a um procedimento judicial sumário), este serviço somente é prestado quando você, ao solicitá-lo, garante que todas as partes envolvidas permanecerão no local até a chegada da viatura; sem isso, o atendimento nem é deflagrado ou, se for, a unidade se retira do local sem nada registrar.

Nestes casos, você tem de procurar um Distrito Policial e registrar a ocorrência (alguns estados e o Distrito Federal oferecem a possibilidade de fazê-lo pela internet); mas, como os dados para este registro são fornecidos unilateralmente, a autoridade policial não se responsabiliza pela sua veracidade, o que dificulta a comprovação em eventual ação judicial, a não ser que você tenha conseguido colher, no momento do acidente, os dados pessoais de pessoas que presenciaram a cena e que se disponham a depor em juízo, o que, como todos sabem, é muito difícil.

Conclusão: adote as suas próprias medidas, pois não é possível contar com o Estado, também para situações como esta.

Pra início de conversa...

A expressão que inspirou o título deste blog é muito utilizada, mas pouco refletida. Talvez por conta de um outro dito popular: “o brasileiro tem memória curta”. Daí surgiu a idéia de reunirmos, aqui, notícias e comentários que podem nos ajudar a pensar com mais frequencia (e agir, na medida das nossas possibilidades), na busca de uma mudança para esse atual estado de coisas.

A nossa Constituição traz em seu preâmbulo o propósito de instituir “um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça”; mas será que o Estado brasileiro nos assegura tudo isso? Ou muito disso? Ou, ao menos, um pouco disso?

Pagamos altíssimos impostos e contribuições, direta e indiretamente e, no entanto, quando queremos exercer tais direitos, temos de pagar: pedágio, para transitar por uma boa estrada; plano de previdência privada, por uma aposentadoria digna e mais tranquila; plano de saúde, por uma assistência médica de mínima qualidade; empresas especializadas em segurança (muitas vezes de propriedade de policiais que recebem do Estado salários pagos com os nossos impostos), para nos dar segurança!!!; escolas privadas, por ensino fundamental e médio de qualidade etecetera, etecetera, etecetera.

O Estado, pouco operante, na verdade parece um fim em si mesmo; o que arrecada, dizem, não é suficiente para cobrir seus próprios gastos, uns necessários, outros nem tanto, uns lícitos, outros ilícitos. E essa inércia não pode ser atribuída exclusivamente ao Poder Executivo, já que o Legislativo e o Judiciário também dão uma significativa parcela de contribuição para a manutenção desse cenário lamentável.